quinta-feira, 16 de junho de 2011

Traçando um perfil

A tragédia em Realengo, ocorrida no dia 7 de Abril, suscitou diversas discussões no que diz respeito à segurança pública, e não menos importante, possibilitou mais algumas das muitas análises feitas pela imprensa, quando surge um caso como este.

A mídia sempre se comportou não só como observadora dos acontecimentos, mas também como psicóloga passiva de análises, muitas vezes clínicas, acerca das motivações que levam alguém a cometer tamanha brutalidade. Entre as suas diversas funções, alguns dos seus papéis desempenhados são os de: desvendar mistérios, atribuir sentidos e buscar significados às reações, as quais nem sempre são planejadas, e por vezes são consequências de impulsos, motivadas por sentimentos momentâneos, tais como os estados alterados da consciência.

Em seu artigo, publicado no portal Observatório da Imprensa, no dia 12 de abril, o jornalista Jorge Claudio Ribeiro, objetivando identificar as reais causas que impulsionaram Wellington de Oliveira a assassinar 12 crianças e em seguida se matar, acabou fomentando ainda mais a criação de estereótipos e imagens que nem sempre condizem com a verdade.

Jorge Ribeiro, logo no primeiro parágrafo do seu artigo, convoca o leitor para uma imersão na carta deixada pelo assassino, como forma de obter respostas. Assim feito, a história passa a ser pública e os códigos da carta são decifrados, caso contrário “corremos o risco de sermos devorados por ele [o assassino]”, conforme palavras do autor.

O trecho instaura o pânico a partir do momento em que a necessidade de descobrir quem é Wellington, e o que o motivou a cometer tal ato, é maior do que o fato em si, a dor das famílias e o trauma deixado nas crianças, as quais vivenciaram e, sobretudo, observaram a chacina.

O jornalista parte de frases e palavras confusas escritas por um jovem que estava fora de si, para descrever o seu comportamento, suas crenças, seu modo de se relacionar e o seu modo de ver. Não é através dos verbos, do tom que o assassino escreveu a carta de despedida, as referências e símbolos evidenciados no texto, que traçaremos um perfil básico de um psicopata, em plena ebulição de um ataque sem precedentes. Muitas vezes o silêncio, próprio de indivíduos calculistas e estratégicos, diz muito mais de uma pessoa capaz de praticar tal ato.

Na psicanálise, a loucura é tratada como um “estado alterado permanente”, que está à sombra da razão. Assim, o indivíduo dominado por tal variante psicopatológica não precisa de motivos e muito menos estopins para realizar uma ação. Ao contrário do que é dito pelo jornalista, não necessitamos compreender a mente de Wellington para que ações preventivas sejam realizadas, desta forma estaremos apenas acentuando ainda mais o medo já disseminado na sociedade.

Conforme dito pelo jornalista, a carta “manifesta profundas contradições”, ou seja, podemos levar em consideração que as palavras se confundem, ao mesmo tempo em que se perdem. Deste modo, fica claro a existência de excertos que nada dizem e apenas confirmam uma personalidade confusa, a qual dificilmente será descrita em algumas linhas.

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