quinta-feira, 16 de junho de 2011

Mergulho no “eu”

“Construção” é considerado por muitos um dos melhores álbuns da música popular brasileira, e isso se deve à imensa capacidade de Chico Buarque de transmitir uma mensagem por meio de suas composições que mesclam protesto com canções líricas e envolventes. Foi lançado em 1971, em meio ao caos da ditadura militar, e logo se tornou sucesso absoluto, atingindo rapidamente a marca de 100 mil cópias vendidas.

O álbum conta com dez faixas, entre composições suas e em conjunto com outros músicos, como Vinícius de Moraes, Toquinho e Tom Jobim. O álbum apresenta músicas que sem dúvida fizeram do artista um ícone da música brasileira, como “Construção”, “Valsinha” e “Apesar de você”, esta última tida como a única música que realmente exalta uma voz de protesto contra o regime opressor, segundo o próprio compositor.

A obra não é considerada somente um clássico por ter marcado uma época importante da política brasileira e ter perdurado ao longo dos anos, mas também pela qualidade técnica, como se cada canção fosse um pedaço da nossa própria história e a de Chico, contada em estrofes.

Difícil é não traçar uma ligação pessoal com um dos trechos ou mesmo toda uma canção. As músicas de Chico Buarque são feitas para apreciar, pensar e repensar, viajar na própria imaginação. Um mergulho no “eu” talvez seja uma das muitas possibilidades que as letras nos proporcionam.

O primeiro contato que tive com o álbum foi em 2006. Na época estava inserido em uma companhia de dança, e algumas músicas do álbum “Construção” iriam compor o espetáculo seguinte que estava em processo de criação. Foi paixão à primeira vista, a melodia cadenciada, marcada por batidas rítmicas se encaixava perfeitamente nos movimentos dos braços e pernas que na música se embalavam.

A música “construção” particularmente funcionava como uma válvula de escape. Logo após sentir a primeira batida, tudo a minha volta sumia, era a música e eu, como se o meu corpo tivesse sido programado para executar cada movimento como se fosse o “único” ou o “último”. E cada vez que a música se repetia a sensação era a mesma, os movimentos pareciam não ter fim.

Certamente, o álbum chama muito mais a atenção pelo todo do que pela parte. A obra me conta uma história, com apresentação, desenvolvimento e desfecho, uma saga com variados personagens e cenários, digna de um poeta como Chico.

A última faixa do álbum, “Acalanto”, talvez seja a música que mais me toca e me fala algo. Ela traduz um sentimento puro e ingênuo, uma fuga das amarras e desilusões que a vida impõe. São seis versos que a cada vez que são re-escutados trazem um novo sentido e uma diferente sensação, como se fosse a primeira vez que tocasse.

As músicas do “poetinha”, assim como era chamado, possibilitam as mais diversas interpretações e, sobretudo, provocam reações das mais diversas. Chico traça uma relação com seu público, traduzindo nossas vontades e anseios, por meio de letras ousadas, poéticas e sugestivas que nos acompanham ao longo de toda uma vida.

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