Objetividade, imparcialidade, informação, conhecimento e tantos outros termos utilizados para descrever a profissão jornalística, são os mesmos questionados e levados à tona quando o assunto diz respeito à qualidade do conteúdo oferecido ao leitor.
Nosso jornalismo sempre esteve amputado de uma das pernas, e isso vem sendo verificado intensamente nos últimos anos, quando houve uma significativa queda das tiragens e da subtração dos jornalistas nas redações, o que mesmo implicando em quantidade, é conseqüência de um desleixo na qualidade.
A emergência de um novo olhar para a profissão e uma nova forma de produzir notícias vem sendo debatido principalmente apenas dentro dos ambientes acadêmicos e em alguns grupos restritos que acreditam que a atual situação pode ser modificada, e assim possamos ganhar mais alguns anos de sobrevida.
A figura do jornalista, aquele personagem ideal, do povo, seguro de si e dono de uma imensa bagagem cultural e social, certamente não é a mais comum ou a mais vista nos meios de comunicação. Presenciamos um profissional mais apegado às práticas comuns, fixo em um ponto, ou seja, à redação, e, particularmente, tendencioso, ligado intimamente a relações de favores e tímido quanto as suas constatações.
O jornalismo praticado na atualidade é resquício dos paradigmas que circundam a modernidade, os quais encobriram as mais diversas instituições políticas/sociais e as deixaram tão defasadas quanto os próprios indivíduos inseridos.
A ausência de contexto, a informação superficial, o descaso com a qualidade do conteúdo, fontes inexistentes, pautas repetidas e a despreocupação humana com o acontecimento, são apenas algumas das muitas características que foram se agregando ao longo do caminho. O jornalismo brasileiro é uma cópia americanizada, técnica e individualista, pretensiosa diante da informação e que visa somente o lucro. Abraçado por uma classe eletista, e contaminado pelas amarras políticas tão presentes na cultura nacional, nos rendemos aos vícios e passamos a produzir notícias sem fundamento, sensacionalistas, sem base e sem sentido.
A realidade é traçada como objeto de reprodução, prevalecendo unicamente a dicotomia: verdade e mentira. As possibilidades sem reduzem, e somos obrigados a aceitar apenas o que é mostrado, isso mesmo, pois a maior parte do acontecimento fica encoberto pela sombra do medo e da ineficácia de profissionais incapacitados.
Há uma necessidade de um mergulho mais profundo e mais preciso que dê possibilidades ao leitor de definir a sua própria realidade, já que por meio de um pensamento complexo, ela se faz muito mais ampla e diversificada.
Segundo a professora e estudiosa de meios digitais, Janet Murray, é necessária uma imersão no conteúdo oferecido. É fundamental participarmos das narrativas e criarmos a nossa própria história, através da teia de possibilidades que o autor oferece. Tal conteúdo interativo e de qualidade pode muito bem ser aplicado às narrativas jornalísticas, que carecem de um embasamento e de preocupação quanto ao seu conteúdo.
A verdade é que sempre estivemos vendados por um jornalismo ideal que não corresponde ao real. Fomos apresentados ao dono da verdade absoluta, vigilante, dotado de objetividade e tido como imparcial. Na prática, certamente nos afastamos da idéia inicial, porém nada disso impede que tenhamos um jornalismo de qualidade e participativo. Prova disso é o jornalismo europeu, que mesmo subjetivado e com juízos sobre a realidade, não deixou de ser completo e reconhecido.
A exigência atual é por um jornalismo capaz de entender e retransmitir os fatos e acontecimentos, não uma cópia fiel da realidade, sem contexto e sem profundidade, mas sim um olhar sensível de uma realidade interna, próxima e tão humana quanto o próprio autor que é um instrumento de compreensão da sociedade, pelo menos era pra ser assim.
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