quinta-feira, 16 de junho de 2011

Quebrando paradigmas

Objetividade, imparcialidade, informação, conhecimento e tantos outros termos utilizados para descrever a profissão jornalística, são os mesmos questionados e levados à tona quando o assunto diz respeito à qualidade do conteúdo oferecido ao leitor.

Nosso jornalismo sempre esteve amputado de uma das pernas, e isso vem sendo verificado intensamente nos últimos anos, quando houve uma significativa queda das tiragens e da subtração dos jornalistas nas redações, o que mesmo implicando em quantidade, é conseqüência de um desleixo na qualidade.

A emergência de um novo olhar para a profissão e uma nova forma de produzir notícias vem sendo debatido principalmente apenas dentro dos ambientes acadêmicos e em alguns grupos restritos que acreditam que a atual situação pode ser modificada, e assim possamos ganhar mais alguns anos de sobrevida.

A figura do jornalista, aquele personagem ideal, do povo, seguro de si e dono de uma imensa bagagem cultural e social, certamente não é a mais comum ou a mais vista nos meios de comunicação. Presenciamos um profissional mais apegado às práticas comuns, fixo em um ponto, ou seja, à redação, e, particularmente, tendencioso, ligado intimamente a relações de favores e tímido quanto as suas constatações.

O jornalismo praticado na atualidade é resquício dos paradigmas que circundam a modernidade, os quais encobriram as mais diversas instituições políticas/sociais e as deixaram tão defasadas quanto os próprios indivíduos inseridos.

A ausência de contexto, a informação superficial, o descaso com a qualidade do conteúdo, fontes inexistentes, pautas repetidas e a despreocupação humana com o acontecimento, são apenas algumas das muitas características que foram se agregando ao longo do caminho. O jornalismo brasileiro é uma cópia americanizada, técnica e individualista, pretensiosa diante da informação e que visa somente o lucro. Abraçado por uma classe eletista, e contaminado pelas amarras políticas tão presentes na cultura nacional, nos rendemos aos vícios e passamos a produzir notícias sem fundamento, sensacionalistas, sem base e sem sentido.

A realidade é traçada como objeto de reprodução, prevalecendo unicamente a dicotomia: verdade e mentira. As possibilidades sem reduzem, e somos obrigados a aceitar apenas o que é mostrado, isso mesmo, pois a maior parte do acontecimento fica encoberto pela sombra do medo e da ineficácia de profissionais incapacitados.

Há uma necessidade de um mergulho mais profundo e mais preciso que dê possibilidades ao leitor de definir a sua própria realidade, já que por meio de um pensamento complexo, ela se faz muito mais ampla e diversificada.

Segundo a professora e estudiosa de meios digitais, Janet Murray, é necessária uma imersão no conteúdo oferecido. É fundamental participarmos das narrativas e criarmos a nossa própria história, através da teia de possibilidades que o autor oferece. Tal conteúdo interativo e de qualidade pode muito bem ser aplicado às narrativas jornalísticas, que carecem de um embasamento e de preocupação quanto ao seu conteúdo.

A verdade é que sempre estivemos vendados por um jornalismo ideal que não corresponde ao real. Fomos apresentados ao dono da verdade absoluta, vigilante, dotado de objetividade e tido como imparcial. Na prática, certamente nos afastamos da idéia inicial, porém nada disso impede que tenhamos um jornalismo de qualidade e participativo. Prova disso é o jornalismo europeu, que mesmo subjetivado e com juízos sobre a realidade, não deixou de ser completo e reconhecido.

A exigência atual é por um jornalismo capaz de entender e retransmitir os fatos e acontecimentos, não uma cópia fiel da realidade, sem contexto e sem profundidade, mas sim um olhar sensível de uma realidade interna, próxima e tão humana quanto o próprio autor que é um instrumento de compreensão da sociedade, pelo menos era pra ser assim.

Mergulho no “eu”

“Construção” é considerado por muitos um dos melhores álbuns da música popular brasileira, e isso se deve à imensa capacidade de Chico Buarque de transmitir uma mensagem por meio de suas composições que mesclam protesto com canções líricas e envolventes. Foi lançado em 1971, em meio ao caos da ditadura militar, e logo se tornou sucesso absoluto, atingindo rapidamente a marca de 100 mil cópias vendidas.

O álbum conta com dez faixas, entre composições suas e em conjunto com outros músicos, como Vinícius de Moraes, Toquinho e Tom Jobim. O álbum apresenta músicas que sem dúvida fizeram do artista um ícone da música brasileira, como “Construção”, “Valsinha” e “Apesar de você”, esta última tida como a única música que realmente exalta uma voz de protesto contra o regime opressor, segundo o próprio compositor.

A obra não é considerada somente um clássico por ter marcado uma época importante da política brasileira e ter perdurado ao longo dos anos, mas também pela qualidade técnica, como se cada canção fosse um pedaço da nossa própria história e a de Chico, contada em estrofes.

Difícil é não traçar uma ligação pessoal com um dos trechos ou mesmo toda uma canção. As músicas de Chico Buarque são feitas para apreciar, pensar e repensar, viajar na própria imaginação. Um mergulho no “eu” talvez seja uma das muitas possibilidades que as letras nos proporcionam.

O primeiro contato que tive com o álbum foi em 2006. Na época estava inserido em uma companhia de dança, e algumas músicas do álbum “Construção” iriam compor o espetáculo seguinte que estava em processo de criação. Foi paixão à primeira vista, a melodia cadenciada, marcada por batidas rítmicas se encaixava perfeitamente nos movimentos dos braços e pernas que na música se embalavam.

A música “construção” particularmente funcionava como uma válvula de escape. Logo após sentir a primeira batida, tudo a minha volta sumia, era a música e eu, como se o meu corpo tivesse sido programado para executar cada movimento como se fosse o “único” ou o “último”. E cada vez que a música se repetia a sensação era a mesma, os movimentos pareciam não ter fim.

Certamente, o álbum chama muito mais a atenção pelo todo do que pela parte. A obra me conta uma história, com apresentação, desenvolvimento e desfecho, uma saga com variados personagens e cenários, digna de um poeta como Chico.

A última faixa do álbum, “Acalanto”, talvez seja a música que mais me toca e me fala algo. Ela traduz um sentimento puro e ingênuo, uma fuga das amarras e desilusões que a vida impõe. São seis versos que a cada vez que são re-escutados trazem um novo sentido e uma diferente sensação, como se fosse a primeira vez que tocasse.

As músicas do “poetinha”, assim como era chamado, possibilitam as mais diversas interpretações e, sobretudo, provocam reações das mais diversas. Chico traça uma relação com seu público, traduzindo nossas vontades e anseios, por meio de letras ousadas, poéticas e sugestivas que nos acompanham ao longo de toda uma vida.

Traçando um perfil

A tragédia em Realengo, ocorrida no dia 7 de Abril, suscitou diversas discussões no que diz respeito à segurança pública, e não menos importante, possibilitou mais algumas das muitas análises feitas pela imprensa, quando surge um caso como este.

A mídia sempre se comportou não só como observadora dos acontecimentos, mas também como psicóloga passiva de análises, muitas vezes clínicas, acerca das motivações que levam alguém a cometer tamanha brutalidade. Entre as suas diversas funções, alguns dos seus papéis desempenhados são os de: desvendar mistérios, atribuir sentidos e buscar significados às reações, as quais nem sempre são planejadas, e por vezes são consequências de impulsos, motivadas por sentimentos momentâneos, tais como os estados alterados da consciência.

Em seu artigo, publicado no portal Observatório da Imprensa, no dia 12 de abril, o jornalista Jorge Claudio Ribeiro, objetivando identificar as reais causas que impulsionaram Wellington de Oliveira a assassinar 12 crianças e em seguida se matar, acabou fomentando ainda mais a criação de estereótipos e imagens que nem sempre condizem com a verdade.

Jorge Ribeiro, logo no primeiro parágrafo do seu artigo, convoca o leitor para uma imersão na carta deixada pelo assassino, como forma de obter respostas. Assim feito, a história passa a ser pública e os códigos da carta são decifrados, caso contrário “corremos o risco de sermos devorados por ele [o assassino]”, conforme palavras do autor.

O trecho instaura o pânico a partir do momento em que a necessidade de descobrir quem é Wellington, e o que o motivou a cometer tal ato, é maior do que o fato em si, a dor das famílias e o trauma deixado nas crianças, as quais vivenciaram e, sobretudo, observaram a chacina.

O jornalista parte de frases e palavras confusas escritas por um jovem que estava fora de si, para descrever o seu comportamento, suas crenças, seu modo de se relacionar e o seu modo de ver. Não é através dos verbos, do tom que o assassino escreveu a carta de despedida, as referências e símbolos evidenciados no texto, que traçaremos um perfil básico de um psicopata, em plena ebulição de um ataque sem precedentes. Muitas vezes o silêncio, próprio de indivíduos calculistas e estratégicos, diz muito mais de uma pessoa capaz de praticar tal ato.

Na psicanálise, a loucura é tratada como um “estado alterado permanente”, que está à sombra da razão. Assim, o indivíduo dominado por tal variante psicopatológica não precisa de motivos e muito menos estopins para realizar uma ação. Ao contrário do que é dito pelo jornalista, não necessitamos compreender a mente de Wellington para que ações preventivas sejam realizadas, desta forma estaremos apenas acentuando ainda mais o medo já disseminado na sociedade.

Conforme dito pelo jornalista, a carta “manifesta profundas contradições”, ou seja, podemos levar em consideração que as palavras se confundem, ao mesmo tempo em que se perdem. Deste modo, fica claro a existência de excertos que nada dizem e apenas confirmam uma personalidade confusa, a qual dificilmente será descrita em algumas linhas.

O jornalismo de qualidade na internet conseguirá se tornar autossustentável?

Desde a sua expansão no século XIX, o jornalismo sempre está em processo de transformação e isso é verificado particularmente com o surgimento dos novos meios de comunicação que servem de base para a prática da atividade.

O jornalismo assume diversas características ao longo dos anos e aos poucos os valores inerentes à atividade vão se perdendo e, sobretudo, se rendem às relações mercadológicas. No entanto os valores da verdade e liberdade não deixam de serem considerados os pilares sustentadores do exercício da profissão.

A qualidade no jornalismo é facilmente ligada à ideia da reprodução mais idêntica possível da realidade, sem juízo de valor ou qualquer detalhe que diga respeito ao olhar subjetivo do jornalista.

O jornalismo impresso é caracterizado pela carga maior de informação, assuntos completos e bem apurado. Com o surgimento da internet e o objetivo de divulgar uma quantidade maior de notícias em um menor espaço de tempo, parte desse conteúdo é comprometido e a qualidade do jornalismo apresentado nesta mídia específica passa a ser questionada.

A internet foi uma inovação no conceito de notícia em tempo real, e profissionais que antes se dedicavam ao impresso, ao rádio e à televisão migraram para este novo suporte. O “Jornal do Brasil” foi o primeiro a oferecer cobertura jornalística na internet e a deixar o impresso, no entanto essa mudança não implicou na qualidade da informação apresentada.

Grandes empresas de comunicação buscam na internet uma sobrevida para suas publicações, visto que o custo-benefício é menor para manter uma versão eletrônica. Porém a informação disponibilizada, e em excesso, faz com que o leitor não decodifique totalmente a mensagem, tornando-o despreocupado e defasado quanto ao conteúdo.

O jornal impresso observa os rumores do seu desaparecimento sempre que uma nova mídia ganha força, foi assim com o surgimento do rádio, da televisão e agora com a internet. No entanto, as empresas jornalísticas têm feito um enorme esforço para se adaptar aos novos moldes e a necessidade dos seus leitores. É o jornal impresso que dispõe de equipe de reportagem para vivenciar o acontecimento, e o fato visto de perto implica na qualidade da notícia apresentada, diferentemente de informações soltas e repassadas por terceiros ou até mesmo copiadas, como visto na internet.

A autossustentabilidade da internet é muita relativa, quando constatamos que o conteúdo veiculado ainda não está perto do ideal proposto. Outro fator é o fato de ser considerada um território aberto, sem restrições, sem segurança e sem legislação.

Tanto o jornalismo impresso como o produzido na internet sofrem com a escassez de recursos e incentivo para investir numa maior qualidade dos processos produtivos, porém o impresso ainda sobrevive e permanece à frente quando o assunto diz respeito a informação completa e apurada.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Experiências Frustrantes

Ao longo dos anos, as conquistas, os sonhos, os medos e desejos são acompanhados das velhas situações que só te fazem perceber o quão controverso e sem palavra o ser humano pode ser.

Essas situações, mais próximas de experiências frustrantes são constantes nas relações pessoais e particularmente intensas, nas profissionais.

Quem nunca se deparou com uma certa decepção com o seu colega de trabalho e, principalmente, com aquele que mesmo não o conhecendo, você nutre um certo rancor, já que ele é o responsável direto pelo seu pagamento.

Ah o pagamento...esse sim, traz grandes tristezas e decepções na hora do "vamo ver".

Certa vez, arrumei um emprego de garçom, num desses lugares badalados, que o pessoal enche a cara e os funcionários...também.

Foi a minha primeira experiência noturna, anteriormente já havia trabalhado de garçom, porém durante o dia. Não pensem que embutido no contrato estava fazer programa com as clientes; apenas o que eu deveria fazer, era servir os clientes animadíssimos da noite, com a promessa de ganhar 50 reais ao fim do turno.

Pois bem, como de praxe, neste tal MPB Bar, havia a conhecida e confusa figura do patrão. Aquele tradicional, que não sabe bem o que faz, mas faz; promete, mas não cumpre; e ainda por cima é o eterno dono da razão.

Foram 5 meses que permaneci naquele ambiente, aprendendo o certo, e talvez em demasia, o errado.

Dispensava a minha diversão durante os finais de semana para estar alí, não porque queria, mas sim, porque precisava. Certamente isso, o tal patrão não tenha aprendido muito bem.

Chegavam dias que eu entrava as 8 da noite e saía às 5, 6 horas da madrugada, tudo em nome do dinheiro que iria receber...ou não.

Ao passar do tempo você aprende que ao fechar a conta dos clientes e observar que a maioria está pagando no cartão, você pode tirar o seu "cavalinho da chuva", pois não receberá dinheiro vivo naquele dia. Se por sorte, no outro dia você for trabalhar, torça e ore insistentemente para que os agradáveis clientes, tenham a bondade de pagar pelo menos a metade do valor em espécie.

Uma lição a se aprender: Na pior das hipóteses, se mesmo assim, o desconhecido dinheiro não entrar, esqueça e principalmente não acredite na falsa promessa que o seu...que o cara que se diz patrão, pois até então você já nem sabe quem manda naquela "bagaça" de verdade, depositará o valor durante a semana. Você, então, terá cinco dias para xingá-lo muito, relembrar o babaca prometendo que iria depositar e gravando na memória as barbaridades e ofensas que você dirigirá à ele no próximo final de semana.

Ao chegar o tão esperado dia, imbecilmente você novamente acredita que ele irá pagar tudo no domingo e firma uma nova dívida, até quando eu não sei.

Agora, experiência frustrante mesmo, neste trabalho, diga-se de passagem, foi a chegada do final do ano e a ilusão de um ano novo luxuoso. Até este momento você relevou bastante coisa: garçom mal caráter, que está pouco se fudendo pra você e que vive bêbado e outras coisas que não vem ao caso; barman que acha que é o rei dos drinks e mal sabe soletrar o seu nome, por motivos que desconheço ou finjo desconhecer. Além disso, você tem que aguentar as malditas piadinhas que após um certo teor alcoólico, você nem leva mais em conta, apenas dá um sorriso maroto e fingi que entendeu.

Pronto, após tudo isso, você está preparado e forte para tomar outro "pé na bunda", ou melhor, um "banho de água fria".

Após aquela dívida se estender ao longo das semanas, e o tal P...o cara lá, falar que vai acertar tudo antes do término do ano e ainda questioná-lo quanto ao valor da dívida, você o surpreende e apresenta as anotações do que recebeu e não recebeu e o total da fatura. Aí sim amigo, pontos para você, que andou apredendo com a vida. No entanto, se você não marcou nada e pensou que o mandachuva iria lembrar, você perdeu cara, perdeu uma porcentagem considerável, que foi direto para o bolso do patrão para nunca mais voltar.

Chega, então, a esperada hora, após dias de sofrimento, após aquele aniversário que você passou trabalhando e que o marca até hoje, após perder aquela festa, comentada ao longo de toda a semana e que você ordinariamente não pôde ir, em nome do promissor trabalho que você arranjou; o seu patrão, chega e descaradamente vira pra você e diz na maior cara de pau que não tem o dinheiro para te pagar, porque...blá, blá, blá...blábláblá, foi só o que eu entendi na hora.

Espere, não acabou, prestes a viajar, você acredita, por um instante, na tal promessa do depósito. Em razão disso, atualmente espero insistentemente a volta de D. Sebastião, da tal batalha.

Mesmo assim, ocorre a viagem e você espera ansiosamente sei lá o quê, pingar na sua conta bancária.

Pois bem, o final de tudo isso não preciso nem comentar, talvez possa listar os inúmeros palavrões e telefonemas interurbanos que realizei e como de costume ninguém me atendeu ou me informaram que o filho da mãe não estava..ah tá.

Tudo bem, você engolhe, sente-se até culpado por não ter sido conivente com os seus colegas e ter furtado umas das garrafas de whisky ou "tocado o terror" no bar e quebrado tudo. Você é tão persistente que ao voltar de viagem vai até o bar, na falsa ilusão que encontrará o homem do dinheiro a sua espera, perguntando o motivo de você não ter ligado, dizendo que o número da conta que havia passado estava errado e em suas mãos, o dinheiro, com juros e correção, pronto para ser usufruído.

Voltando à real, você se depara com o bar fechado, ao sábado à noite, na Vila Madalena.

Sugem hipóteses: ou o desgraçado morreu e estão de luto, acho que ninguém ficaria, ou fechou mesmo e ele fugiu devendo para todos os funcionários, corrompendo de vez o mínimo de dignidade que possuía. Embora a segunda opção, mesmo inacreditável, pelo menos no momento pra você, seja a verdadeira, como um bom cabeça dura, na semana seguinte você retorna ao local, só para confirmar que você é um trouxa nato e acredita facilmente nas pessoas.

Pois bem, esta foi uma das experiências frustantes que me ocorreram, pelo menos eu aprendi como funciona o mundo capitalista, não utópico, se é que este último existe, e, sobretudo com o trabalho aprendi a...a...a beber; não que antes eu não sabia, mas este foi um potencial alavancador do meu vício atual.RS

PS: Como as experiências frustrantes fazem parte de uma vida bem vivida e intensa, no último final de semana fui trabalhar de garçom em quatro eventos, com uma promessa irrecusável, que abria mão do cansaço e até mesmo da própria vida. Desta vez, não era "presepada", o pessoal era conhecido, ía pagar o combinado. Engano meu...

Pelos rumores, já sei que não será assim. Tirando a má organização e falta de orientação para as tarefas, após quatro dias que sonhei que iria me dar bem no final do ano, agora tenho um grave pessimismo que me acompanha e me impulsionou a escrever este relato, antes mesmo de receber a quantia combinada.

O que me faz pensar desta maneira?

Resposta: A dura realidade, a falta de profissionalismo dos outros, a falta de vontade em pegar o mesmo telefone que ligou oferecendo o tal trabalho irresistível, para avisar que estaria enviando o dinheiro, não como tinha combinado, por causa de...sei lá, inventa.

É, esta é a triste verdade de quem está aprendendo com a cidade grande e que a partir de hoje tem sempre um pé atrás com tudo...

Tenha sempre em mãos, um manual contra propostas irresístiveis...


Boas FESTAS...

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Falando sério

A festa da democracia brasileira aproxima-se de mais uma edição. Traz consigo dúvidas, escândalos, censura, calúnias e tantos outros sentimentos e ações que no mínimo são passíveis de reflexão no eleitor.

"Nunca antes na história desse país", foi tão preciso a participação do cidadão em um momento tão decisivo, que chegou ao seu limite, da vergonha e do descaso com o nosso país.
Talvez o fato mais importante de todo esse jogo político, desonesto e lamentável, seja o papel da imprensa perante a sociedade.

O caso "Erenice Guerra" foi o estopim de toda manifestação oposicionista, reveladamente partidária, ao atual Governo.
Não venho com bandeiras em mãos, ou santinhos a distribuir. Venho exercer meu direito, meu dever e compartilhar as minhas convicções. Muito mais do que isso, estou exercendo a verdadeira 'liberdade de expressão', tão massacrada e distorcida na visão daqueles que acham que a verdadeira liberdade consiste em falar o que der na teia, acusar sem provas, julgar sem argumentos, noticiar sem apuração.

Quem sofre principalmente com toda esta trama, são aqueles que sonham ser parte integrante da profissão jornalística. Aqueles que defendem a unhas e dentes o profissional essencial, conhecedor, informado, socialmente engajado, prestativo e sobretudo, ético.
Muito dos valores imaginados e ainda estudados nas diversas Instituições de Ensino do Brasil, o que para mim é fundamental para despertar nos futuros profissionais o resgate, ou melhor, a criação de uma imprensa mais empenhada e comprometida, foram esquecidos ao longo do caminho. Atualmente, presenciamos o desgaste e observamos as sequelas do mau exercício da profissão.

O que fica claramente visível, é que os dois lados pecaram nas acusações. Há verdades em ambos discursos, mas há também muita sujeira espalhada. Em quem confiar, o que é verdadeiro, e como consertar a máquina de poder. A resposta é fácil por um lado e difícil por outro.
Em relação a política, culturamente enraizada de forma estúpida e suja nesta terra, o poder está em nossas mãos, pronto para ser utilizado, neste domingo. Já com relação a imprensa é necessário uma profunda revisão nas suas políticas editoriais. Que tal assumirmos a nossa posição partidária, sem afetar a nossa credibilidade e a nossa capacidade de informar sem deturpar a realidade.

Está na hora de encerrar o discurso de apartidarismo, e lutar pela imparcialidade, mesmo que no seu ínfimo conceito não seja 100% possível.

Censurar é impedir que a opinião seja dada, é bloquear o direito de ir e vir, garantido na Constituição; é ferir os direitos do cidadão. Não se resume simplesmente em limitar a divulgação de notícias infundadas, mal apuradas, recheada de 'achismos'.

Eleitores, votem conscientemente e fujam daqueles que fazem da política, um espaço para exibição e desmoralização da democracia.
Profissionais, sejamos menos políticos nas nossas posições, façam da ética a bandeira do jornalismo, tão completo e necessário, pelo menos em seu conceito.
Ser um jornalista capacitado, para muitos, ou pelo menos para mim, é o maior anseio. Este profissional tão criticado, por vezes corretamente, é a expressão viva e forte dos desejos do cidadão. Longe de ser um quarto poder, ele é o intermediário da população, não é mais, nem menos, é parte e porta voz, da sociedade que clama por mudanças.

Votem conscientes, nosso país precisa...

Boa Eleição...

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Reconstruindo o real

Há muitos que dirão que o cinema seria a invenção do século XIX, outros apenas mais uma ferramenta para reproduzir a realidade, invertendo-a por vezes, mas causando na sua maioria uma sensação de identificação.

Desde o seu nascimento, em 1895, até a sua disseminação em meados do século XX, a arte coletiva tem ditado muitos comportamentos e inspirado diversas pessoas a se relacionar com o aparelho que ao mesmo tempo em que reproduz histórias, cria muitas outras que se aproximam muito da nossa ideia de real. Mas o que seria a realidade para a gente?

Villem Flusser, filósofo Tcheco, naturalizado brasileiro, trabalhará principalmente a questão da imagem e a forma que nos relacionamos com ela e o mundo. Em sua teoria filosófica intitulada "A Filosofia da Caixa Preta", Flusser irá explicar a capacidade da fotografia imitar o real, dispensando e renegando a informação do texto escrito e trazendo para si a capacidade de modificar o mundo. Esse conceito irá servir muito bem ao cinema, que seria a tecnologia mais atual, dentro do conceito de Flusser, o Aparelho que imita e funciona em analogia ao ser humano.

Hollywood tornou-se a fábrica de tendências, de estereótipos e não menos importante, da imagem. Imagem que se faz das pessoas, imagem "padrão" do corpo sem mente, imagem daquilo que imaginamos ser o mundo. Todas essas funções servirão única e exclusivamente para nos tornar incapazes de criar a nossa própria identidade, a qual não servirá mais, já que na imagem encontramos todas as possibilidades de mostrar aquilo que não somos. Flusser formulará a teoria de que o Aparelho será o produtor do mundo de superfícies, o qual despreza a linguagem e a aliena, assim como faz com o ser humano.

Até que ponto seremos capazes de nos reconhecer e fazer da nossa identidade algo que nos qualifique e somente deixe transparecer o que de nós é verdade. Este, talvez seja o grande desafio do que Flusser irá chamar de sociedade pós-indutrial do futuro. Já que o mundo além de operar o Aparelho ele também está contido nele, a cultura será substituída e posteriormente eliminada, pois dela o mundo não precisara mais, visto que ele continuará mundo mesmo não a possuindo.
Todos os pensamentos de Flusser nos levarão a refletir a até que ponto o mundo depende do aparelho e até que ponto este pode modificá-lo, de maneira que a imagem ao invés de transmitir o real seja ferramenta de construção do irreal? Será que vemos a realidade ou aquilo que nos querem mostrar?



Texto apresentado à disciplina de Filosofia Contemporânea, do Curso de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.