Ao longo dos anos, as conquistas, os sonhos, os medos e desejos são acompanhados das velhas situações que só te fazem perceber o quão controverso e sem palavra o ser humano pode ser.
Essas situações, mais próximas de experiências frustrantes são constantes nas relações pessoais e particularmente intensas, nas profissionais.
Quem nunca se deparou com uma certa decepção com o seu colega de trabalho e, principalmente, com aquele que mesmo não o conhecendo, você nutre um certo rancor, já que ele é o responsável direto pelo seu pagamento.
Ah o pagamento...esse sim, traz grandes tristezas e decepções na hora do "vamo ver".
Certa vez, arrumei um emprego de garçom, num desses lugares badalados, que o pessoal enche a cara e os funcionários...também.
Foi a minha primeira experiência noturna, anteriormente já havia trabalhado de garçom, porém durante o dia. Não pensem que embutido no contrato estava fazer programa com as clientes; apenas o que eu deveria fazer, era servir os clientes animadíssimos da noite, com a promessa de ganhar 50 reais ao fim do turno.
Pois bem, como de praxe, neste tal MPB Bar, havia a conhecida e confusa figura do patrão. Aquele tradicional, que não sabe bem o que faz, mas faz; promete, mas não cumpre; e ainda por cima é o eterno dono da razão.
Foram 5 meses que permaneci naquele ambiente, aprendendo o certo, e talvez em demasia, o errado.
Dispensava a minha diversão durante os finais de semana para estar alí, não porque queria, mas sim, porque precisava. Certamente isso, o tal patrão não tenha aprendido muito bem.
Chegavam dias que eu entrava as 8 da noite e saía às 5, 6 horas da madrugada, tudo em nome do dinheiro que iria receber...ou não.
Ao passar do tempo você aprende que ao fechar a conta dos clientes e observar que a maioria está pagando no cartão, você pode tirar o seu "cavalinho da chuva", pois não receberá dinheiro vivo naquele dia. Se por sorte, no outro dia você for trabalhar, torça e ore insistentemente para que os agradáveis clientes, tenham a bondade de pagar pelo menos a metade do valor em espécie.
Uma lição a se aprender: Na pior das hipóteses, se mesmo assim, o desconhecido dinheiro não entrar, esqueça e principalmente não acredite na falsa promessa que o seu...que o cara que se diz patrão, pois até então você já nem sabe quem manda naquela "bagaça" de verdade, depositará o valor durante a semana. Você, então, terá cinco dias para xingá-lo muito, relembrar o babaca prometendo que iria depositar e gravando na memória as barbaridades e ofensas que você dirigirá à ele no próximo final de semana.
Ao chegar o tão esperado dia, imbecilmente você novamente acredita que ele irá pagar tudo no domingo e firma uma nova dívida, até quando eu não sei.
Agora, experiência frustrante mesmo, neste trabalho, diga-se de passagem, foi a chegada do final do ano e a ilusão de um ano novo luxuoso. Até este momento você relevou bastante coisa: garçom mal caráter, que está pouco se fudendo pra você e que vive bêbado e outras coisas que não vem ao caso; barman que acha que é o rei dos drinks e mal sabe soletrar o seu nome, por motivos que desconheço ou finjo desconhecer. Além disso, você tem que aguentar as malditas piadinhas que após um certo teor alcoólico, você nem leva mais em conta, apenas dá um sorriso maroto e fingi que entendeu.
Pronto, após tudo isso, você está preparado e forte para tomar outro "pé na bunda", ou melhor, um "banho de água fria".
Após aquela dívida se estender ao longo das semanas, e o tal P...o cara lá, falar que vai acertar tudo antes do término do ano e ainda questioná-lo quanto ao valor da dívida, você o surpreende e apresenta as anotações do que recebeu e não recebeu e o total da fatura. Aí sim amigo, pontos para você, que andou apredendo com a vida. No entanto, se você não marcou nada e pensou que o mandachuva iria lembrar, você perdeu cara, perdeu uma porcentagem considerável, que foi direto para o bolso do patrão para nunca mais voltar.
Chega, então, a esperada hora, após dias de sofrimento, após aquele aniversário que você passou trabalhando e que o marca até hoje, após perder aquela festa, comentada ao longo de toda a semana e que você ordinariamente não pôde ir, em nome do promissor trabalho que você arranjou; o seu patrão, chega e descaradamente vira pra você e diz na maior cara de pau que não tem o dinheiro para te pagar, porque...blá, blá, blá...blábláblá, foi só o que eu entendi na hora.
Espere, não acabou, prestes a viajar, você acredita, por um instante, na tal promessa do depósito. Em razão disso, atualmente espero insistentemente a volta de D. Sebastião, da tal batalha.
Mesmo assim, ocorre a viagem e você espera ansiosamente sei lá o quê, pingar na sua conta bancária.
Pois bem, o final de tudo isso não preciso nem comentar, talvez possa listar os inúmeros palavrões e telefonemas interurbanos que realizei e como de costume ninguém me atendeu ou me informaram que o filho da mãe não estava..ah tá.
Tudo bem, você engolhe, sente-se até culpado por não ter sido conivente com os seus colegas e ter furtado umas das garrafas de whisky ou "tocado o terror" no bar e quebrado tudo. Você é tão persistente que ao voltar de viagem vai até o bar, na falsa ilusão que encontrará o homem do dinheiro a sua espera, perguntando o motivo de você não ter ligado, dizendo que o número da conta que havia passado estava errado e em suas mãos, o dinheiro, com juros e correção, pronto para ser usufruído.
Voltando à real, você se depara com o bar fechado, ao sábado à noite, na Vila Madalena.
Sugem hipóteses: ou o desgraçado morreu e estão de luto, acho que ninguém ficaria, ou fechou mesmo e ele fugiu devendo para todos os funcionários, corrompendo de vez o mínimo de dignidade que possuía. Embora a segunda opção, mesmo inacreditável, pelo menos no momento pra você, seja a verdadeira, como um bom cabeça dura, na semana seguinte você retorna ao local, só para confirmar que você é um trouxa nato e acredita facilmente nas pessoas.
Pois bem, esta foi uma das experiências frustantes que me ocorreram, pelo menos eu aprendi como funciona o mundo capitalista, não utópico, se é que este último existe, e, sobretudo com o trabalho aprendi a...a...a beber; não que antes eu não sabia, mas este foi um potencial alavancador do meu vício atual.RS
PS: Como as experiências frustrantes fazem parte de uma vida bem vivida e intensa, no último final de semana fui trabalhar de garçom em quatro eventos, com uma promessa irrecusável, que abria mão do cansaço e até mesmo da própria vida. Desta vez, não era "presepada", o pessoal era conhecido, ía pagar o combinado. Engano meu...
Pelos rumores, já sei que não será assim. Tirando a má organização e falta de orientação para as tarefas, após quatro dias que sonhei que iria me dar bem no final do ano, agora tenho um grave pessimismo que me acompanha e me impulsionou a escrever este relato, antes mesmo de receber a quantia combinada.
O que me faz pensar desta maneira?
Resposta: A dura realidade, a falta de profissionalismo dos outros, a falta de vontade em pegar o mesmo telefone que ligou oferecendo o tal trabalho irresistível, para avisar que estaria enviando o dinheiro, não como tinha combinado, por causa de...sei lá, inventa.
É, esta é a triste verdade de quem está aprendendo com a cidade grande e que a partir de hoje tem sempre um pé atrás com tudo...
Tenha sempre em mãos, um manual contra propostas irresístiveis...
Boas FESTAS...
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Assinar:
Postagens (Atom)