Há muitos que dirão que o cinema seria a invenção do século XIX, outros apenas mais uma ferramenta para reproduzir a realidade, invertendo-a por vezes, mas causando na sua maioria uma sensação de identificação.
Desde o seu nascimento, em 1895, até a sua disseminação em meados do século XX, a arte coletiva tem ditado muitos comportamentos e inspirado diversas pessoas a se relacionar com o aparelho que ao mesmo tempo em que reproduz histórias, cria muitas outras que se aproximam muito da nossa ideia de real. Mas o que seria a realidade para a gente?
Villem Flusser, filósofo Tcheco, naturalizado brasileiro, trabalhará principalmente a questão da imagem e a forma que nos relacionamos com ela e o mundo. Em sua teoria filosófica intitulada "A Filosofia da Caixa Preta", Flusser irá explicar a capacidade da fotografia imitar o real, dispensando e renegando a informação do texto escrito e trazendo para si a capacidade de modificar o mundo. Esse conceito irá servir muito bem ao cinema, que seria a tecnologia mais atual, dentro do conceito de Flusser, o Aparelho que imita e funciona em analogia ao ser humano.
Hollywood tornou-se a fábrica de tendências, de estereótipos e não menos importante, da imagem. Imagem que se faz das pessoas, imagem "padrão" do corpo sem mente, imagem daquilo que imaginamos ser o mundo. Todas essas funções servirão única e exclusivamente para nos tornar incapazes de criar a nossa própria identidade, a qual não servirá mais, já que na imagem encontramos todas as possibilidades de mostrar aquilo que não somos. Flusser formulará a teoria de que o Aparelho será o produtor do mundo de superfícies, o qual despreza a linguagem e a aliena, assim como faz com o ser humano.
Até que ponto seremos capazes de nos reconhecer e fazer da nossa identidade algo que nos qualifique e somente deixe transparecer o que de nós é verdade. Este, talvez seja o grande desafio do que Flusser irá chamar de sociedade pós-indutrial do futuro. Já que o mundo além de operar o Aparelho ele também está contido nele, a cultura será substituída e posteriormente eliminada, pois dela o mundo não precisara mais, visto que ele continuará mundo mesmo não a possuindo.
Todos os pensamentos de Flusser nos levarão a refletir a até que ponto o mundo depende do aparelho e até que ponto este pode modificá-lo, de maneira que a imagem ao invés de transmitir o real seja ferramenta de construção do irreal? Será que vemos a realidade ou aquilo que nos querem mostrar?
Texto apresentado à disciplina de Filosofia Contemporânea, do Curso de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
terça-feira, 17 de agosto de 2010
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